A noiva do Prof. Dr. Lincoln
Por Maria Stella Terelli Dias
Na década de 60, seria
talvez 1965, fui com minha irmã para a casa de nossos avós em Monte Belo, antes
de seguir para Belo Horizonte , onde fixaria residência com nossos pais e
irmãos menores.
Certo dia meu tio chegou
comentando sobre a chegada de várias pessoas de outros municípios para assistir
um júri, que o Dr. Lincoln, primo de
mamãe, brilhante advogado e conhecido em todo o Sul de Minas, faria a defesa.
Jovem e curiosa,
segui junto a ele até o local, sendo
recebidos pelo Dr. Lincoln, já vestido com a toga, que nos cumprimentou e pediu
que nos apressasse e tomássemos o lugar no salão, pois o Júri em breve
começaria.
No intervalo tivemos com
ele uma rápida conversa no corredor, em que meu tio convidou-o para jantar,
dizendo que já estaria indo embora, mas que eu ficaria até o fim.
Foi um jantar muito
agradável, com conversa alegre e muito flerte.
Desculpou-se por não
poder demorar, pois seguiria viagem até a cidade vizinha, onde no dia seguinte
atuaria em outra defesa. Convidou-me para assistir, dizendo que ficaria muito
feliz com minha presença.
Passei a noite matutando
como fazer para deslocar-me para o município vizinho. Fomos então de
“jardineira”, minha irmã e eu, mas infelizmente devido ao horário não pudemos
ficar até o final.
A noite, quando voltou,
deixou-me uma caixa de bombons, uma carta romântica e uma poesia sobre rosas.
Eu já pensava em seguir
para BH, quando minha tia de Alfenas
ligou para vovó dizendo que estava doente e precisava de repouso
absoluto. Precisava de alguém para cuidar dos serviços da casa e dos flhos.
Ciente da dificuldade que vovó teria para enviar alguém tão rápido, ofereci-me
para ir ficar uma semana até que conseguissem alguém para tal.
Já em Alfenas comentei
com os parentes que tinha assistido dois júris, onde o Dr. Lincoln atuara
brilhantemente. Meu primo adolescente começou a rir sem parar. No dia seguinte
meu primo pediu que eu colocasse uma roupa bem bonita, porque a noite
receberíamos visitas, achei que fosse para
tia adoentada. Para surpresa de todos a visita era o Dr. Lincoln, que
chegou com bombons. Ali naquela noite começamos a namorar.
Acabei ficando quase um
mês em Alfenas, até que meu irmão mais velho ligou pedindo que pegasse o ônibus
para BH, pois já tinha emprego para nós duas. Ficamos alguns meses na casa do
avô paterno, até que nossos pais chegassem de São Paulo com a mudança.
Enquanto isso passei a
corresponder com o Lincoln, que logo apareceu de surpresa na casa de vovô. Foi
convidado a jantar, e meu tio também advogado chamou-o para trabalhar em BH, em
um escritório já muito conhecido.
Nossa conversava sempre
muito interessante e agradável.
Filosofava, declamava, falava muito de seu ídolo Thomás more, e de suas
obras: A súplica das Almas, Rosa......, e apreciações jurídicas, tratados
etc....
Passadas algumas
semanas, apareceu novamente. Nesta oportunidade perguntou-me se me casaria com
ele para morar em Alfenas, pois se sentia responsável pela mãe e irmãs e fazia
questão de estar com elas. Propos então
que morássemos numa edícula, na rua ao lado da casa da mãe. Aceitei e disse que
também trabalharia para ajudar nas despesas, e assim um dia poderíamos ter uma
casa melhor.
Comentei com meus
padrinhos de batismo que ficaram tão felizes que iniciaram meu enxoval. Foi
combinado com meus tios, que ele iria me apresentar ao Lions Clube, em um
jantar em data a combinar com antecedência em Alfenas, para que esperássemos
meu pai chegar de São Paulo para me acompanhar. Ficamos aguardando então a
data.
Antes de qualquer
notícia sobre o assunto, já trabalhando em dois empregos e estudando a
noite, apareceu um moça em meu serviço
dizendo ser a namorada de muitos anos do Lincoln, em que não deixaria de forma
alguma que ele se cassasse comigo. Foi um verdadeiro rebuliço na minha vida e
na minha cabeça. Meus tios ficaram decepcionados querendo uma satisfação...
Comuniquei-me com ele
por telefone e logo em seguida ele apareceu rapidamente em BH, confirmando
nosso noivado, que iríamos nos casar e meu pediu que esquecesse o ocorrido e
que não tocasse mais no assunto. Contou-me ele que todas as tardes, quando
chegava em casa, tirava a camisa e sua mãe coçava-lhe as costas, e que isso
relaxava-o muito. Prometi então que faria o mesmo depois de casados.
Como sou sensitiva desde
criança, em certa ocasião tive uma visão do Lincoln conversando com uma chinesa
, num circo, muito alegre e risonho e ela de maiô. O ciúme bateu e então
telefonei a ele pedindo explicações. Ele não gostou, achou que tinha pedido a
alguém para vigiá-lo, e mesmo explicando que era sensitiva acho que não
acreditou.
O tempo corria e as
cartas foram ficando mais escassas, a paixão foi esfriando e a vida no corre-corre,
e a prioridade de ambos era sua respectiva família.
Não escrevi mais, tão
pouco recebi outras cartas. Dei então por encerrado nosso namoro.
Em certa ocasião fomos convidados para um
aniversário em outro bairro. Era uma festa com muitos jovens e três deles me
olhava e riam, o quê me constrangia. Perguntei então a um deles o que ocorria,
ele prontamente respondeu: -Você não é a noiva do Dr. Lincoln? Fiquei realmente
assustada e disse a ele que tinha sido namorada e que ele deveria estar com a
outra noiva, ao que responderam, que a cidade toda sabia que a noiva era eu.
Dois anos depois conheci
um novo amor, com quem me casei e vivi estes 45 anos de grandes realizações.
Porém, morando em
Florianópolis, um dia estava a plantar flores, quando tive uma visão com o
Lincoln dizendo que viera se despedir. Falou do amor que sentira por mim e de
muitas cartas extraviadas... Liguei para
minha tia que me confirmou o falecimento dele...
E assim, agradeço a Deus
por conceder-me nesta vida amar e ser amada por dois homens sensíveis ,
inteligentes e generosos.
Stella
Foto da Stella no carnaval de Tiradentes.
Reviravoltas na trama da vida, no campo do amor se tornam ainda mais eminentes mesmo.
ResponderExcluirParabéns pela muito bem escrita cronica.
Abraços.
grilo.cambuí
O texto é bacana, claro. Mas a imagem de fantasia no carnaval tb merece seu destaque! rs
ResponderExcluirAbç,
Kleiton
http://kleitongoncalves.blogspot.com.br/
Trabalhei na secretaria da escola quando Dr Lincoln era diretor. Guardo uma cópia de um dos poemas "Quem Foi?". De um Amigo Oculto e ele saiu com meu nome,tenho uma bela faca até hoje.
ResponderExcluirJá se vão mais de 40 anos.
A Banda Marcial Áurea Lex Engel, a marcha fúnebre e o toque de silêncio no pistom. Como se fosse hoje.
"Meninos, eu vi!".
Sai de Alfenas em dezembro de 79.
Tem a história do Lincon ?
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