Por Pompéia Terezinha Machado Silva
Hoje fiquei lembrando de algumas passagens da minha fase de criança (por favor, não riam, afinal não faz tanto tempo assim: parece que foi ontem).Para que entendam a histórinha, devo dizer que minha mãe (Conceição Tamburini) se viu viúva aos 29 anos e com 4 filhos para criar: a mais velha com 5 anos e o mais novo com 7 meses...Tudo seria muito triste e traumático não fosse o senso de humor de minha mãe e da família inteira...Bem, para quem se casa tão cedo (aos 20 anos) não há opção de continuar estudando, principalmente naquela época... E então, viúva e somente com o ensino médio, minha mãe resolveu montar um salão de cabeleireiro (com o que criou e educou todos os filhos).Acontece que somente o salão não era suficiente para cobrir todas as despesas com a criançada e então... ela resolveu inovar: vendia também sapatos!Bem, normal!... Qual a novidade em vender sapato?!Nenhuma, se não associassemos os sapatos a enorme casa antiga e velha onde morávamos, na praça Getúlio Vargas...Os sapatos ficavam em caixas estocadas em um grande quarto sem uso onde as "freguesas" entravam para experimentá-los...Acontece que o assoalho, de tábua corrida deste cômodo era muito velho e meio... "podre".Um belo dia de sol e de primavera, minha mãe, toda feliz porque havia chegado uma grande quantidade de novos modelos da cidade de Jaú, recebe e convida duas freguesas que estavam sendo atendidas no salão, para conhecerem e experimentarem os sapatos!Nada de mais se essas mulheres não pesassem mais de 110kg... (cada uma).Quando caminhavam o chão rangia... E atrás delas, minha mãe e eu, de suporte.A cada vez que elas trocavam os passos, eu tremia junto... e pensava: ai, agora já era!(e eu tinha apenas 7 anos - já imaginaram o trauma?).Bem, minha mãe, empolgada mostrava os modelos e elas adoravam e riam, se mexiam... e o chão tremia! E eu quase chorava...Ao final de alguns minutos (que pareciam dias) uma das mulheres resolveu experimentar os sapatos e, foi aí então, que o pior aconteceu: ao levantar a perna para colocar o sapato, a outra perna afundou no assoalho... e então, em pânico a pobre pedia ajuda ...E ao tentar puxar a perna com a mão, eis que sua mão também fica presa...Ao usar a outra mão, viu-se presa pelas duas mãos e pelos dois pés (sim, porque o outro pé também afundou tamanha era a pressão sobre a madeira do assoalho).Minha mãe, apavorada, pedia socorro às suas ajudantes do salão e essas, aos prantos (de tanto rir) não tinham forças para tanto. E a pobre coitada da mulher só olhava como que implorando por misericórdia!...Criança tem o coração puro e então, corrí para a porta da rua e pedí ajuda ao primeiro homem que achei forte o suficiente para ajudar (na verdade, a minha preocupação era o desespero da minha mãe).Seu João, velho conhecido da família correu a ajudar mas, ao dar de cara com a cena, e vermelho de tanto segurar o riso, soltou a frase da qual nunca mais esquecí:"Eita sapato bão esse, né meeessmo, dª Conceição, pesado e resistente... até furou o chão!"E forte e resistente mesmo foi o seu João que, de uma única arrancada, conseguiu tirar do buraco a pobre mulher...Se ela levou o sapato?Não... e nunca mais pisou no salão da minha mãe! E olha que essa só faltou chorar de tanta vergonha.Bem, após tudo isso, uma coisa boa aconteceu: o dono da casa em que morávamos trocou o assoalho e então nenhuma mulher caiu em buraco nenhum e nenhuma galinha botou ovo em nossos travesseiros ...
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O sapato e o assoalho
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Muito bom este causo! Ainda bem que o Seu João, além de espirituoso tinha bastante força.
ResponderExcluirUm abraço.