quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O sapato e o assoalho


  • Por Pompéia Terezinha Machado Silva 



    Hoje fiquei lembrando de algumas passagens da minha fase de criança (por favor, não riam, afinal não faz tanto tempo assim: parece que foi ontem).

    Para que entendam a histórinha, devo dizer que minha mãe (Conceição Tamburini)  se viu viúva aos 29 anos e com 4 filhos para criar: a mais velha com 5 anos e o mais novo com 7 meses...
    Tudo seria muito triste e traumático não fosse o senso de humor de minha mãe e da família inteira...
    Bem, para quem se casa tão cedo (aos 20 anos) não há opção de continuar estudando, principalmente naquela época... E então, viúva e somente com o ensino médio, minha mãe resolveu montar um salão de cabeleireiro (com o que criou e educou todos os filhos).
    Acontece que somente o salão não era suficiente para cobrir todas as despesas com a criançada e então... ela resolveu inovar: vendia também sapatos!
    Bem, normal!... Qual a novidade em vender sapato?!
    Nenhuma, se não associassemos os sapatos a enorme casa antiga e velha onde morávamos, na praça Getúlio Vargas...
    Os sapatos ficavam em caixas estocadas em um grande quarto sem uso onde as "freguesas" entravam para experimentá-los...
    Acontece que o assoalho, de tábua corrida deste cômodo era muito velho e meio... "podre".
    Um belo dia de sol e de primavera, minha mãe, toda feliz porque havia chegado uma grande quantidade de novos modelos da cidade de Jaú, recebe e convida duas freguesas que estavam sendo atendidas no salão, para conhecerem e experimentarem os sapatos!
    Nada de mais se essas mulheres não pesassem mais de 110kg... (cada uma).
    Quando caminhavam o chão rangia... E atrás delas, minha mãe e eu, de suporte.
    A cada vez que elas trocavam os passos, eu tremia junto... e pensava: ai, agora já era!
    (e eu tinha apenas 7 anos - já imaginaram o trauma?).
    Bem, minha mãe, empolgada mostrava os modelos e elas adoravam e riam, se mexiam... e o chão tremia! E eu quase chorava...
    Ao final de alguns minutos (que pareciam dias) uma das mulheres resolveu experimentar os sapatos e, foi aí então, que o pior aconteceu: ao levantar a perna para colocar o sapato, a outra perna afundou no assoalho... e então, em pânico a pobre pedia ajuda ...
    E ao tentar puxar a perna com a mão, eis que sua mão também fica presa...
    Ao usar a outra mão, viu-se presa pelas duas mãos e pelos dois pés (sim, porque o outro pé também afundou tamanha era a pressão sobre a madeira do assoalho).
    Minha mãe, apavorada, pedia socorro às suas ajudantes do salão e essas, aos prantos (de tanto rir) não tinham forças para tanto. E a pobre coitada da mulher só olhava como que implorando por misericórdia!...
    Criança tem o coração puro e então, corrí para a porta da rua e pedí ajuda ao primeiro homem que achei forte o suficiente para ajudar (na verdade, a minha preocupação era o desespero da minha mãe).
    Seu João, velho conhecido da família correu a ajudar mas, ao dar de cara com a cena, e vermelho de tanto segurar o riso, soltou a frase da qual nunca mais esquecí:
    "Eita sapato bão esse, né meeessmo, dª Conceição, pesado e resistente... até furou o chão!"
    E forte e resistente mesmo foi o seu João que, de uma única arrancada, conseguiu tirar do buraco a pobre mulher...
    Se ela levou o sapato?
    Não... e nunca mais pisou no salão da minha mãe! E olha que essa só faltou chorar de tanta vergonha.
    Bem, após tudo isso, uma coisa boa aconteceu: o dono da casa em que morávamos trocou o assoalho e então nenhuma mulher caiu em buraco nenhum e nenhuma galinha botou ovo em nossos travesseiros ...

      • Rachel Pitaluga kkkkk
        18 de Novembro às 22:39 ·  ·  1

      • Jorgeane Alexandre Gente e engraçado demais ,mas coitada da gordinha ela deve ter querido que o bendito assoalho abrise de vez e a engolise!
        18 de Novembro às 22:56 ·  ·  1

      • Jairo Da Silveira Barbosa Tadinha, imagina o sentimento dela, a vergonha e o mau jeito, sua mãe não se desculpou com ela e disse que o assoalho que tava ruim? fiquei com pena da moça, tomara que ela não esteja nesse grupo e não leia isso. hehehe
        18 de Novembro às 23:07 · 

      • Pompéia Terezinha Machado Silva Minha mãe até chorou, Jairo... Hoje a gente leva na brincadeira mas na época foi triste... A moça acho que não está aqui não porque ela não era de Alfenas... Não me lembro a cidade mas era "de fora" como dizíamos naquela época. Morávamos de aluguel e minha mãe já tinha pedido várias vezes para que o dono da casa trocasse o assoalho e só depois do ocorrido é que ele fez a reforma...
        18 de Novembro às 23:39 · 

      • Marta Pereira Pompéia, fiquei com dò de todos , mais fiquei com mais dó de vc , cada vez que elas trocavam os passos , vc tremia junto,que angustia né? mais não nego ,que dei boas gargalhadas sozinha enquanto lia. valeu!!!
        19 de Novembro às 00:15 ·  ·  1

      • Gustavo M. Engel Vídeo cacetada alfenense. Isso me lembrou uma cena de um dos romances de Machado de Assis, acho que Quincas Borba, que ele descreve minuciosamente um tombo de um carteiro. Depois pede desculpas ao leitor pela detalhada narrativa e justifica dizendo que quem se entediou com a descrição é porque nunca viu um carteiro caindo.
        19 de Novembro às 01:07 ·  ·  1

      • Gustavo M. Engel Adoro histórias... contem sempre. abçs
        19 de Novembro às 01:08 ·  ·  1

      • Jovany Sales Rey Pompéia Terezinha Machado Silva, bom demais!!!
        19 de Novembro às 03:00 ·  ·  1

      • Marisa Guarda otimooooooooo,rsrs
        19 de Novembro às 13:29 ·  ·  1

      • Katia Sn kkkkkkkkkkkkkkkkkk qse cometo gargalhicidio,lia e imaginava a cena...que história fantástica Pompéia Terezinha Machado Silva :D
        19 de Novembro às 14:22 ·  ·  1

      • Mariangela Macedo muito bom!!!!!
        19 de Novembro às 16:24 ·  ·  1

      • Fernando Tamburini Desse causo eu não lembro, Pom. Mas dei boas risadas, imaginando a mamãe naquela situação.
        19 de Novembro às 20:41 ·  ·  2

      • Eliane Bronsema Cardoso Boa estória e bem contada....Parabéns!
        19 de Novembro às 21:23 ·  ·  1

Um comentário:

  1. Muito bom este causo! Ainda bem que o Seu João, além de espirituoso tinha bastante força.
    Um abraço.

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