domingo, 27 de novembro de 2011

Rádio Cultura



Numa reunião, com o pessoal do povoado de Alfenas, das fazendas e de certos bairros distantes, como o Gaspar Lopes; discutiam e trocavam experiências e iam aprendendo de que forma as notícias chegavam.
Depois de muita discussão, a coisa logo começou a pegar fogo. Um rapaz deu uma idéia de conseguir uma rádio pra Alfenas; outros diziam que aquilo era um absurdo, um verdadeiro “displante”, onde já se viu escutar notícias suas através de um rádio.
Em tom mais moderado, seu Jovany deu uma tragada no seu cigarrão de paia e levantou, limpou a güela, coçou o bigode, deu um suspiro e foi falando de um jeito simples que prendeu atenção de todos.
Eu estava sossegado ali no meu canto, vendo todo mundo falando e discutindo, eu como sou fraco de leitura e estudo nem se fala, seu falar besteira me desculpe, cada um d’oceis tem razão, mas o meu pensamento é se a notícia pode chegar mais rápido através de um rádio porque não tentar, acho que vai ser bão demais pra todo mundo, agente é pobre mais precisa saber o que ta acontecendo,uai.
Daí surgiu, a Rádio Cultura de Alfenas, bem que nossa cidade merecia.
Seu alcance era pequeno e o interlocutor escolhido foi o próprio Jovany, comedido nas idéia, muito expansivo e brincalhão.
Seu programa começava pontualmente às quatro horas da manhã e ficava até as oito horas da manhã. Enquanto não chegava a hora de ligar o rádio neste programa seu Julian e seus empregados escoravam a barriga no balcão, outros ficavam de cócoras, tomava um café aqui, pitava um cigarro de paia de lá, chupava umas laranjas até ter início da programação.
O programa era baseado nas moda de viola, ou seja, em músicas sertanejas antigas ou de raiz, antes de iniciar havia um ritual, ele colocava uma Ave-Maria pedia um bocado de silêncio em respeito a oração e logo depois era o hino Nacional.
A rádio toda hora fazia propaganda nos intervalos das modas de viola, seu Julian um ouvinte cativo de programas caipiras, e tanto escutar aquele chamado, pedindo ao ouvinte para ligar, ficou curioso e resolveu ligar.
Seu Julian, tinha um barracão de beneficiar laranja, ligava o rádio todo dia as quatro horas da madrugada e pedia música gospel, e mandava todos os seus empregados fazerem o mesmo. Isso foi umas três semanas seguidas e  sem parar. Só que todo o dia ele tapiava a voz e dizia ser outra pessoa ao telefone.
Seu Julian era um conhecido do Jovany sempre parava trocar uns dedos de prosa com ele, mas não ousava contar que era ele próprio quem ligava. No entanto, ele dizia que o pessoal que trabalhava pra ele gostava muito de toda programação da rádio, das músicas e principalmente aquela oração logo pela manhã.
Só que muitos não ligavam na rádio, porque diziam que o locutor era bravo, falava muito alto e as vezes com muito aspereza.
E que alguns amigos destes funcionários pediam uma música diferente do repertório, você não atende, e ainda desliga o telefone na cara deles.
 Seu Jovany ficava até roxo de raiva, vivia saindo do sério com esses telefonemas.
Então um belo, ele disfarçou sua voz ao telefone ligou para rádio, contou um tanto de lorota e pediu uma música especial, que era aniversário de 90 anos, e todos estavam reunidos para festejar com a vovózinha no café da manhã. E que a distinta velhinha queria uma música muito especial pra ela, relembrar os momentos vividos.
Senhor pode pedir qualquer uma música, que eu atendo. Isso é uma honra muito grande pra mim.
Coloca então o bonde do tigrão!
Foi um furdunço danado, era palavrão de tudo que é tipo.
Se ta brincando comigo seu ordinário? Só um minutinho que eu falo com ocê fora do ar.

Túlio Faria

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