quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AZUL

Tudo azul, por Milton Kennedy

Foi numa cidadezinha do sul de Minas, chamada Alfenas que conheci seu César, famoso Césinha peito de pomba por causa do seu porte atlético. No começo de vida foi capador de animal, escornava bezerro e cuidava dos animais até cicatrizar. Depois aprumou mais um cadinho e começou criação de cavalo manga larga. Amansava os cavalos pra sela e vendia. Um homem sistemático ao extremo, e ninguém podia responder nada que não fosse do seu agrado que retrucava. Numa bela manhã Césinha apertou a barrigueira do seu cavalo índio, igualou as rédeas, botou o pé no estribo, passou a perna pra riba do arreio, cutucou a espora na virilha do cavalo, bateu o chicote na anca do animal e deu um grito:
- Hoje vou te mostrar a dor de uma saudade.
Num passou mais de duas horas o cavalo voltou sozinho, meio ressabiado o peão ficou matutando um pouco e resolveu procurar o Césinha, depois de dar umas voltas achou o homem desacordado.
Césinha levou um tombo do cavalo e ficou desacordado por algumas horas. Depois desse dia começou a enxergar tudo azul.
 Ele era torcedor do Cruzeiro, tudo era Azul.
Usava calça azul, blusa azul, meia azul, cueca azul e comprava sapato branco e tingia de azul.
Ficou  doido e meio.
As cores só azul, e pronto.
Tudo que perguntava para ele, ele dizia:
- tudo azul
- que horas são ?
 -  cinco azul
- Tudo bem seu César?
- Tudo azul.
- Hoje o sol esta bonito, né Césinha?
- Tudo azul.
- o senhor me conhece?
- Azul, azul.
Medo, medo ninguém sentia do seu César; só um pouco de cisma.
Um dia tentei conversar com ele, conversa pouca, só respondia aos troncos e barrancos, um jeitão desconfiado, olhar distante.
O jeitão dele é que punha todo mundo cismado, tudo que perguntava para ele, ele dizia azul.
Eu acho que é cisma, não era medo não, né memo?
Nossa comunidade então o apelidou de azul.
Túlio Faria

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