GUARDA
RODOVIÁRIO.
Por Túlio Faria
Seu Túlio Régis Faria levou
um susto danado; quando seu filho Gustavo anunciou que seguiria uma carreira
militar, ninguém esperava uma coisa dessas. Gustavo foi dizendo num carece de
se preocupar comigo, meu pai.
Gustavo acabou o curso de
policial militar, pegou dinheiro emprestado do pai engatou no curso
preparatório pra policial rodoviário; arregaçou as mangas, meteu os peito,
chegou junto e; vou fazer meu nome.
O nome Gustavo Poltronieri
Faria Júnior foi dado por seu pai, que chamava seu Túlio Régis Faria, o Junior
mesmo o povão não sabia pra quê?...
A Jaguariúna era enorme, as
ruas compridas que desembocava na Igreja Matriz.
Então pra mostrar serviço
tratou logo de escrever pros colegas de turma, procurou e especulou daqui e
dali o quanto pôde e, finalmente comprou uma lambreta, equipou a bicha de cabo
a rabo, o capacete comprou logo dois, tinha importado do estrangeiro. A farda
era um brinco, nenhuma ruguinha, nada, nada, e a botina; mais parecia um
espelho de tanto que lumiava, chegava até arder os olhos. E o óculos? Era de
armação vermelha e lentes alaranjadas de cores vivas.
A fama do policial Gustavo
corria até as cidades vizinhas, muitos vinham buscar recurso dele. Muito
disposto, não tinha hora pra terminar o trabalho, até nas estradas de servidão
ele aparecia. De uma banda pra outra às vezes voltava das suas andanças só de
noite.
Era o policial campeão em
multas, multava qualquer um. Podia ser o filho do juiz, delegado, prefeito,
dentista, médico, com ele não tinha isso não. Dizia:
- Lei é lei, tem que ser
respeitada e cumprida, custe o que custar.
O povão ficava até de boca
cheia de falar do policial Gustavo, bem que nossa cidade precisava de alguém de
respeito
Uma tarde quando foi socorrer
um acidente na curva noventa de um caminhão de carga, perdeu o capacete. O
motorista do caminhão aflito, gesticulava, coçava a cabeça e fazia sinais. Era
um motorista de pouca idade e pouca experiência. Gustavo tentava acalmar,
espichando a conversa, o sol queimando que nem brasa, pensava em como sair
daquela enrascada, mas o sujeito não dava trégua.
Só quando chegou o socorro e
o guincho o homem se acalmou. Gustavo buscou outro capacete reserva e continuou
seu trabalho, quanto mais andava, mais o nariz coçava, ficou igual um pimentão
vermelho.
Depois de esfriar a cabeça
com o tal acidente, parou na igreja pra agradecer, rezou um bucadinho pedindo
mais proteção, na hora da saída, encontrou o Amauri.
Amauri o maior halterocopista
de Jaguariúna, era um oi, um gole. Vivia de bar em bar, quando num tava bêbado,
tava de ressaca.
Amauri disse:
- Boooaaa Tarrde, seu
Gustavo?
- Boa Tarde.
- Ôoo seu Gustavo, se taaa
fazendooo comeerrcial?
- Você endoidô, seu
Vagabundo.
- Com respeito que Ôceee merece, mas ocê ta
parecendo o peru da sadia do comercial da televisão, sô.
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