quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


  •  MARCIA FARIA e  BADARÓ



       Filha caçula da Dona Terezinha do Marcial, mas conhecida como Marcinha. Morena com cabelos ondulados pretos, olhos grandes, sobrancelha aparada e corpo de Miss, era um trem de doido.
    Moça bonita, elegante e prendada que nem Marcinha vai ser difícil encontrar. Cursou odontologia na faculdade federal de Alfenas, sendo reconhecida como um das alunas mais inteligentes e com profundo interesse pela pesquisa, até contra dizendo revistas poderosas da odontologia; provando que o bochecho com água era mais eficaz que com certos produtos de várias marcas. Teve professor que até quis comprar sua pesquisa só para não ser publicada. Dona Terezinha sentia um orgulho da filha, nem se contentava.
    Antes de se formar trabalhou duro na loja de secos e molhados da sua tia filhinha, mas dona Terezinha estava preocupada mesma era com o futuro, precisava arranjar um bom partido pra filha. Terezinha escutava conversa daqui e dali, vivia zanzando dum lado pro outro. No grupo de oração pedia a Deus pra colocar alguém no caminho da Marcinha. Terezinha fazia jejum toda sexta-feira, água benta nos pés de Nossa Senhora e acendia a vela pro Santo Antônio. Fora o tanto de simpatia que aprendia pra agarrar marido.
    Marcinha pelo contrário nem pensava em casamento, não queria saber de arrumar encosto algum. Queria mesmo era estudar, especializar na capital federal e seguir os passos do seu pai o Dr. Marcial, professor renomado de Alfenas.
    Marcinha costumava acompanhar a mãe nas missas e no grupo de oração da igreja matriz São José e Dores de Alfenas.
    Dona Terezinha sempre tinha um ditado e repetia sempre pra Marcinha:
    - O que falta na beleza, o bolso completa.
    Marcinha não se conformava, todo dia a mesma lengalenga, ficava até  acanhada com as prosas de sua mãe. A paciência da Marcinha já estava por um fio, vira-e-mexe o assunto voltava.
    Dona Terezinha não importava se fosse rico ou pobre; formado ou não o importante é ser direito e ter Deus no coração.
    Quando chegou a hora de casar, veio gente de longe, fazendeiro, comerciante, político, jogador de futebol e até piloto apareceu. Mas como diz o ditado o que é do homem o bicho não come. Marcinha firmou namoro com o Badaró, dentista famoso do barranco alto, rapaz de boa aparência, fala mansa, prestativo e todo mundo fazia gosto. Badaró já causava inveja nos dentistas mais antigos do lugar, começava atender a seis da matina, costumava nem almoçar pra ficar com os bolsos cheio de dinheiro. Badaró com aquela vontade louca de arregaçar as mangas e fazer o nome; pois a Marcinha não ia esperar a vida inteira e nem dona Terezinha então nem pensar. De noitinha no Barranco Alto recebeu um cliente aflito, gesticulando com um pano amarrado na cabeça. Badaró mandou o cliente sentar, aplicou uma anestesia, assim podia trabalhar mais a vontade. Enquanto ligava a estufa para esterelizar os boticão, deu uma risadinha pro cliente e perguntou:
    - Tudo bão caboco?
    O rapaz respondeu que sim com a cabeça.
    - Então abra a boca e fique tranqüilo, tudo vai dar certo.
    Badaró descarnô a gengiva, pegou o boticão Chifre de Boi, mexeu pro lado de cá, mexeu pro lado de lá e o dente nem balançava. Badaró suava que nem brasa, pior de tudo que sofria por dentro, não conseguia aliviar o sofrimento do pobre coitado. Badaró pediu a intervenção de Nossa Senhora e fez uma promessa que casaria com a Marcinha na mesma data do próximo mês. Badaró fez um buraquinho com a broca perto da raiz, tornou pegar o boticão firme, parecia que o dente vinha e não vinha; agarrou com as duas mãos na hora “H” escapulia o mardito. Rezou mais um bucadinho e pegou o Chifre de Boi com as duas mãos arrancou o dente pilão que voou longe. Deu um grito, levantou os braços, fez o nome do pai, rezou uma Ave-Maria e disse:
    - Obrigado Nossa Senhora, pelo amor de Deus; mês que vem caso cá Marcinha.

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